A atriz Viola Davis, de 57 anos, protagonista de A Mulher Rei, filme que entra em cartaz dia 22, está no Brasil para promover o longa. O filme estreou esse fim de semana nos Estados Unidos, no topo das bilheterias. A ganhadora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, em 2016, por Um Limite Entre Nós, entre outros prêmios, concedeu entrevista coletiva para falar da general Nanisca, treinadora da próxima geração de guerreiras, no reino africano de Daomé (atual Benin), no século 19. As agojies realmente existiram e sua função era proteger o local de seus inimigos.
O filme foi todo rodado na África do Sul e isso foi muito importante para a intérprete, que já havia comentado sobre isso. ““Me senti em casa. Casa para mim é o meu marido e a minha filha, a minha mãe. Mas o lar também é uma comunidade da qual me sinto parte, uma comunidade onde nem sempre estou me escondendo e justificando minha presença. Lá, eu senti como se tivesse brotado daquele chão. Me senti parte daquela gente. Me senti parte da terra, do céu. Eu me senti em casa. E eu não acho que você possa recriar isso em um estúdio. Acho que essa história é muito preta e muito africana.”
Viola, que também é produtora, conversou com a imprensa, hoje, 19/09, sobre a película, ao lado do marido e também produtor, Julius Tennon. A atriz se mostrou impressionada pela comida, cultura e gentileza dos brasileiros. As belezas naturais do Rio de Janeiro deixaram a diva supresa. “O cristo redentor, o oceano, as montanhas tiraram o meu fôlego e o de Julius”, comentou a intérprete.
Depois a artista falou da importância de estar aqui no lançamento de seu filme. “Doze milhões de escravos vieram daquela parte da África e a maioria deles veio para o Brasil primeiro. Nós estamos conectados. Nós viemos da mesma fonte.” A estrela também falou da importância de se produzir um filme com mulheres negras como protagonistas da história nos dias de hoje. “Nós não fomos vistas antes em grandes filmes, não tivemos presença. Nossa beleza, poder não foram vistos. Não temos sido vistas como valiosas e é muito importante para mulheres negras verem isso.”
Sobre a existência das Agojies, Viola disse que havia ouvido a respeito vagamente quando começou a fazer o filme. Na pesquisa descobriu que consideravam as agojies “descartáveis”. ”Elas eram recrutadas entre 8 e 14 anos, consideradas feias para conseguir se casar. Eram treinadas para tirar toda a emoção. Como você encontra uma maneira de viver desse jeito? Elas tinham um grande orgulho de proteger aquele reinado.”
A intérprete também falou sobre a alegria de estar na pele de Nanisca. “`Passei 10 anos da minha vida estudando interpretação. Sempre vivi personagens clássicas brancas do teatro. E aqui estou interpretando essa mulher. De repente, estou em meu mundo, em um lugar onde posso usar a tela de Viola. Isso me fez sentir humanizada. A complexidade do que é ser uma mulher negra em um filme feito por mim. Vocês veem a mim. Isso é muito emocionante”.
A artista deu mais detalhes sobre a personagem: “Ela diz: ‘Sou uma general. Eu conquistei o posto’. Ela é a líder, não a segunda em comando. Normalmente, uma mulher negra está sempre em um lugar secundário”. Aos que chamam o filme de ação, a atriz acrescenta: “É um drama histórico. Ser uma guerreira é parte de quem ela é.”
Aulas de artes marciais e muito mais
Foram necessárias também cinco horas de treinos por dia sendo que, duas horas e meia, de artes marciais para entrar na pele das guerreiras do filme. “Nanisca tinha que ser forte, tinha que usar a espada com uma mão.”.
A atriz abordou o preconceito racial no cinema. “O racismo fez um trabalho em nós. Mulheres negras estão no final da lista. Somos vistas como advogadas, médicas sem nome, a mulher que chora a morte do filho. Não temos uma história”, analisou a atriz que acrescentou: ”Eu quero as mulheres negras humanizadas em sua capacidade, como todo mundo. Se estamos lutando contra o racismo e o colorismo, o primeiro passo é esse. Somos todos parte da humanidade. Não há possibilidade de ser uma artista sem mostrar isso”.
A atriz recordou um momento em sua vida. “Lembro de uma pessoa que um dia, do nada, me disse: Você sabe que não é bonita, certo? Eles dizem o que você não é sem punição. É muito importante ter papéis como esses, eles importam. Isso não é mais aceitável. Eu sou digna, sinto muito. Os filmes têm que refletir isso.”
Questionado sobre a possibilidade de um retorno ao tema do filme, Julius se mostrou esperançoso. “Tudo começa com algo espetacular. Tem tudo: humor, emoção... Tenho esperança que venha o próximo passo. Esse tipo de filme deve fazer dinheiro. Quando fizerem, teremos proliferação deles.”